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Marina
Vinicius de Moraes
Poesia

MARINA


Lembras-te das pescarias
Nas pedras das Três-Marias
                    Lembras-te, Marina?

Na navalha dos mariscos
Teus pés corriam ariscos
                    Valente menina!

Crescia na beira-luz
O papo dos baiacus
                    Que pescávamos

E nas vagas matutinas
Chupávamos tangerinas
                   E vagávamos…

Tinhas uns peitinhos duros
E teus beicinhos escuros
                     Flauteavam valsas

Valsas ilhoas! vadio
Eu procurava, no frio
                    De tuas calças

E te adorava; sentia
Teu cheiro a peixe, bebia
                    Teu bafo de sal

E quantas vezes, precoce
Em vão, pela tua posse
                  Não me saí mal...

Deixavas-me dessa luta
Uma adstringência de fruta
                  De suor, de alga

Mas sempre te libertavas
Com doidas dentadas bravas
               Menina fidalga!

Foste minha companheira
Foste minha derradeira
                  Única aventura?

Que nas outras criaturas
Não vi mais meninas puras
                 Menina pura.

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